Bom, vou partir do princípio de que você gosta…
Você deve ter uma banda preferida, um cantor, uma cantora, um músico, sei lá… Se você gosta de música você deve ter uma preferência por alguém…
Ah, e você deve ter uma música preferida também…
Música preferida é um troço complicado. Não dá pra ser uma só. Pra mim, a música preferida depende não só da banda, mas do momento. Tem horas que a minha música preferida é “For Whom The Bell Tools” do Metallica. E tem horas que é “Wave” do Tom Jobim. Percebeu como é complicado? Ás vezes eu vou de manhã pro trabalho ouvindo uma e volto a noite ouvindo a outra. Ou seja, é o momento que define isso. Mas, sendo heavy metal ou bossa nova, a música preferida é aquela que quando toca, te leva pra alguma dimensão individual, algum universo paralelo, onde nada mais importa. Só ouvir aquele som.
Agora… você já viu (e ouviu) a sua banda preferida tocando a sua música preferida?
Eu já. Inúmeras vezes!
A minha banda preferida é o Iron Maiden. Eu lembro que entre 86 e 88 eu ouvi uma música do Iron Maiden. Não lembro qual, mas gostei. Mas o lance aconteceu em 93. Tinha um cara no trabalho que estava vendendo toda a coleção dele de discos do Iron Maiden (em Vinil!). Eu comprei. Sem saber o que tinha, quantos discos eram, se estava completa ou não. Eu sou impulsivo com música. Fui pra casa, ouvi todos os discos, um por um. E gostei de todas as músicas que ouvi. E isso define pra mim o que é banda preferida - é aquela que eu gosto de todas as músicas. Simples assim. Já tive umas histórias legais por causa do Iron Maiden (essa, por exemplo). Já fui até operado ao som de Iron Maiden por uma médica que era fã dos caras e colocou pra tocar na sala de cirurgia, quando descobriu que eu gostava.
Mas voltando…
A minha música preferida quando se trata do Iron Maiden é Wasted Years. Ela foi lançada em 1986 como single do disco Somewhere in Time. Ë uma das poucas músicas escritas pelo Adrian Smith, um dos guitarristas da banda.
Foi escrita durante alguma turnê, não sei qual. A letra fala da saudade de casa. De ficar longe dos seus. E dos problemas que isso te traz. Eu nem entendia inglês quando fiz dessa a minha música preferida da banda. Mas o fato é que vira e mexe, ocorreram períodos na minha vida que por questões profissionais e algumas pessoais, eu tive (tenho) que ficar longe da minha casa. E era foda. Eu sentia saudades da minha própria casa de uma maneira quase doentia. Era ridículo. As vezes não eram nem 5 dias fora, mas eu já ficava puto. Tão puto que até mudei de emprego, não só por causa disso, mas com certeza foi um dos fatores. (É óbvio que, quando a viagem é a passeio, a coisa muda!)
Bom, eu estava falando de música…
Eu achava que nunca veria a banda tocando essa música ao vivo. É velha, não estava nos set list. Até que um dia, eles resolveram recriar a turnê de lançamento do disco Somewhere in Time. E “Wasted Years” estava nessa turnê. Não acreditei que veria. Mas vi… uma, duas, três vezes. Fui a dois shows em estados diferentes no Brasil dentro de um período de 7 dias.
A sensação de ver e ouvir a sua banda preferida tocando a sua música preferida é realmente de outro mundo. Todo mundo devia sentir essa sensação. Do ponto de vista racional é até meio bobo, pois são ali 3, 4 minutos e pronto, acabou. Mas sinceramente eu desconfio de quem é muito racional…
Eu já disse pra algumas pessoas: A música tem o poder de salvar vidas. Eu tenho um livro chamado “Noite passada uma música salvou a minha vida”. O livro é médio, mas o título é ótimo. Ainda vou escrever na parede da sala.
Esse ano eu vi de novo: Iron Maiden tocando Wasted Years. Estou mais velho, já não pulo tanto, não tenho tanto fôlego pra berrar a letra a plenos pulmões como fiz nas primeiras vezes. Sou mais contemplativo. Mas a sensação estava lá. Aos primeiros acordes, me arrepiei. Ouvi a letra, cantei em silêncio (pode isso Arnaldo?), entrei no clima e devo ter ido passear em algum universo paralelo, ignorando as trocentas mil pessoas ao meu redor. 5 minutos e pouco de energia total. Revigorante! Enquanto Mr Bruce Dickinson cantava os versos abaixo, eu acompanhava balançando a cabeça lentamente de olhos fechados.
Ao final, abri os olhos, aplaudi. Olhei pro lado e percebi um garotinho de uns 12 anos me olhando fixamente. Tive a sensação que ele ficou me olhando a música toda. Ele continuou me olhando, fez o símbolo do Heavy Metal com a mão ( o chifrinho com o indicador e o mínimo) e riu. Eu devolvi o gesto e tive a certeza: Esse garotinho experimentou a sensação! Essa música é foda!
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