domingo, outubro 06, 2013

The Last Party - B-52's


Sábado, 06 de Outubro de 2013, HSBC Brasil, SP
Há muito tempo se diz por aí que o Brasil é um alento para bandas e grupos musicais em plena decadência. Particularmente eu não concordo com isso. E se eu concordasse, teria perdido a oportunidade de me divertir no último sábado, dia 06 de Outubro - Party Out of Bounds!!!

Crédito Imagem: www.uol.com.br
B-52’s. B Fifth Twos, ou Bife com Xuxu! Não importa como o nome é pronunciado. Se você tem mais de 30 anos, com certeza já ouviu uma música acelerada, dançante, com um riff de guitarra marcante chamada Private Idaho. 
O lugar: HSCB Brasil. Alguns acham a casa pequena. Outros dizem que o som deixa a desejar. O fato é que o lugar foi uma boa opção para esse show. Normalmente, o HSBC é o local escolhido pelos produtores para shows não tão “mainstream”. Pra se ter uma idéia eu vi o divertido show do “Mr Big” lá (aquela banda da música "To Be With You").
O público: Considerando que o B-52’s lançou somente dois discos de músicas inéditas nos últimos 21 anos e que o estilo musical no qual eles foram batizados, o New Wave, não existe mais,  o público não poderia ser diferente. Poucos ali deviam ter menos de 35 anos. E muitos estavam bem acima desta média. Vale citar que pista vip, mesas e camarotes deram lotação esgotada. Só havia ingressos para pista normal.
O show: Se eu puder descrever em uma palavra, diria que foi um show... honesto! Sim, honesto. Como eu já disse, o B-52’s não lança nada novo há 2 décadas. Então, de uma certa forma você sabe o que eles vão apresentar, direto ao ponto, sem firulas.
Sem banda de abertura, o show marcado para as 21:00hs começou as 21:15hs. E logo de cara deu pra perceber que não tinha firulas mesmo. Nada de música de introdução, fumaça de gelo seco ou luzes piscando. Nada! Nem abertura de cortina teve, porque a cortina já estava aberta. A banda simplesmente entrou no palco e começou a tocar “Planet Claire”. Cindy Wilson, Fred Schneider e Kate Pierson, nesta ordem, entraram e saldaram o público com gestos. O pessoal devolveu com entusiamo.
Nesta primeira música, Kate Pierson usa sua voz forte e acompanha toda a base junto com o teclado. Cindy Wilson toca (toca?) bongô e Fred Schneider fica brincando com seu agogô. Esse esquema vai se repetir durante todo o show.
A segunda música é "Mesopotamia". E a terceira, a música que eu jurava que fechava o show, e com certeza a mais famosa da banda: "Private Idaho". Colocar essa música nos primeiros minutos faz a banda ganhar a platéia facilmente. Fica difícil ouvir os vocalistas cantando, tamanha a empolgação do público.
O B-52’s tem 37 anos de carreira. Kate Pierson tem 65 anos, Fred Schneider tem 62 e a caçula é Cindy Wilson com 56. Mas incrivelmente, quem agita mais é Kate Pierson. Ela obviamente não tem mais a mesma energia e remelexo de antigamente - os quilinhos a mais são visíveis - mas ainda dança, faz algumas coreografias dos videoclipes e praticamente não fica parada durante todo o show. Bem diferente de Cindy Wilson, que praticamente não dança. No máximo dá um pra lá e um pra cá. Parece até que ela está doente, gripada ou sei lá o quê. O fato é que ela realmente se mexe pouco no palco. Isso não influencia na sua voz, que continua a mesma. Aliás, todos os três continuam exatamente com a mesma potência vocal. Não deixaram nada a desejar nesse quesito. 
Outro detalhe sobre Cindy Wilson é que em algumas músicas, ela toca bongô. Bom.. dizer que ela TOCA bongô me parece otimismo demais... Parece que ela aprendeu com o Jô Soares....
Alguns segundos depois de ter acabado Private Idaho, faltou energia no HSBC. Na verdade, faltou energia no quarteirão. De início a banda ficou no palco meio sem saber o que fazer, mas logo Fred Schneider começou a puxar palmas da platéia junto com o baterista Sterling Campbell que ficou fazendo uns solos, aproveitando que seu instrumento não precisa de energia elétrica.
O gerador do HSBC entrou em cena e ao reacenderem as luzes Fred Schneider disse: “Desculpem por isso... nós esquecemos de pagar a conta de luz...”. É amigo, não tá fácil pra ninguém!
Anunciou “Lava”. Confesso que pelo nome não lembrava da música, mas aos primeiros acordes, voltei para 1982 onde eu não sabia falar o nome da banda, mas achava os penteados e as cores bem legais.
Próxima música: “Dance This Mess Around” - conhecida de poucos na platéia. Na sexta, “Girl from Ipanema Goes to Greenland” é o momento solo de Cindy Wilson. Ao anunciar a música, ela dedicou ao irmão, Ricky Wilson, ex-guitarrista e um dos fundadores do B-52’s que morreu de complicações por causa do HIV em 1985. Cindy saiu da banda entre 1990/1994 e 1999/2001, para cuidar da família.
Kate Pierson voltou ao palco para um dos grandes momentos do show. A dobradinha de “Roam” e “Legal Tender” cantada pelo duo de vocalistas mais colorido da história. Sim, Cindy Wilson continua com seus cabelos louríssimos, quase brancos, com franjinha de colegial. Kate Pierson não trouxe nenhum penteado mirabolante, mas conserva o vermelho dos seus cabelos com uma dedicação incrível!
Inicialmente eu achei que as duas interagiam pouco uma com a outra e poderiam até estar no esquema “Keith Richards X Mick Jagger”, mas ao menos nessas duas músicas, a coisa foi diferente. Ela correram juntas de um lado para o outro, se abraçaram, Cindy puxou Kate para lá e para cá, riram. Pareciam realmente duas amigas que se encontravam para fofocar em pleno show. Foi a primeira e última vez que Cindy deu uma “agitada”. No restante do show ela realmente parecia um pouco afastada de todos. Enquando Fred e Kate dançavam juntos, ela preferia ficar no outro canto do palco.
Com essas duas músicas também fica claro que elas não perderam a qualidade da voz. Continuam com o mesmo tom, força, timbre, tudo perfeitamente igual há 20, 25 anos atrás.
Durante “Legal Tender”, talvez a música que tem o videoclipe mais famoso da banda, eu senti falta de um telão de efeitos ou alguma produção mais rebuscada. Mas não havia nada. Somente uns 7 pontos de luz projetados no fundo do palco, que mudavam de cor. Só. Nem um cartaz com o nome da banda.
Mesmo assim, ao final da música, foi o momento em que a banda (no caso as duas, pois Fred não estava no palco) foi mais aplaudida e ovacionada! Ficaram visivelmente emocionadas.
Fred Schneider voltou e seguiu-se com as 4 músicas mais desconhecidas do set: “Love in the Year 3000”, “Is that you Mo Dean”, “6060-842” e “Whammy Kiss”.
Como foi um momento meio morno e estas músicas não são especificamente as minhas mais preferidas, aproveito para falar da banda de apoio. Já comentei do baterista Sterling Campbell. Completava a cozinha, a baixista Tracy Wormworth. Paul Gordon nos teclados e... putz.. esqueci o nome do guitarrista. Mas o ponto aqui é que as músicas são executadas com precisão cirúrgica. Exatamente igual ao que você escuta no disco, principalmente pelo guitarrista-não-lembro-o-nome e pelo baterista Sterling (que tocou com óculos escuros e é a cara do Vin Diesel). E isso é bom! Os rifs de guitarra eram exatamente iguais aos que você conhece. O baterista toca naquela velocidade ramoniana que as músicas exigem, mantendo a pegada do começo ao fim. Em algumas músicas, rola até um peso maior na dupla guitarra-bateria, mostrando que ao vivo, tudo pode ficar até mais divertido.
Fred Schneider apresentou a banda, as duas vocalistas apresentaram ele... muito barulho, palmas e assobios. Agradeceram e saíram do palco. Depois de 5 minutos voltaram para o bis com “Party Out of Bonds” e “Rock Lobster”. Parte das músicas foi tocada com a luz da platéia acesa, pois era o último grande momento do show e todos sabiam disso, então todos aproveitaram ao máximo em ver e ser visto. Talvez era o último momento do B-52’s no Brasil. Apesar deles não terem deixado claro, essa é provavelmente a última turnê (que não tem nem nome). Após o guitarrista Keith Strickland ter anunciado a aposentadoria no final do ano passado e ter parado de excursionar, a banda disse que daria um tempo e que está cansada. Além disso, todos tem projetos paralelos - Kate , por exemplo, tem dois hotéis nos EUA que administra junto com sua companheira, com quem vive desde 2003 e vai lançar disco solo -  Cindy tem a The Cindy Wilson Band.
Eu saí satisfeito do show. Na verdade não foi um show. Não foi “o melhor show que você viu na vida”, como prometeu Fred Schneider em entrevista ao Jornal da Globo. Não teve essa conotação de espetáculo. Foi... uma festa! Sim, foi uma festa entre amigos que tocaram umas músicas dançantes pra se divertir um pouco. O B-52’s não fez um espetáculo para conquistar ninguém. Eles não querem mais isso e nem poderiam. Ninguém saiu do show e vai atrás de discos dos caras. Foi só uma festa. Mas foi uma festa muito, muito divertida. 
Ao sair do palco, Fred Schneider disse: “Nos vemos em...algum vídeo por aí”. E fim! Não só o fim de um show, mas talvez o fim de uma das bandas mais divertidas e festeiras dos últimos tempos.
Marcelo Machado tem 36 anos e gostaria de conhecer Love Shack - a little old place where we can get togheter. Love Shack Baby!


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