domingo, outubro 13, 2013

Black Sabbath - Aos mestres... A reverência!


Épico, Histórico, Sensacional - Sabe aqueles momentos em que você olha pro céu e agradece ao seu Deus (seja ele qual for) por algo? Pois bem, acredito que na última sexta-feira, 70 mil pessoas fizeram isso!

I can’t fuck hear you!!!

Sexta-feira, 11 de Outubro de 2013, Campo de Marte - SP

É indescritível. Só quem esteve lá pra saber. Finalmente o Black Sabbath tocou no Brasil com sua formação 75% original ( o baterista Bill Ward não embarcou nessa de “reunião” e preferiu ficar em casa ).

Desde o anúncio do retorno da banda, da gravação do disco e da turnê, amantes do Heavy Metal do mundo inteiro ficaram ansiosos. E a banda entregou muito mais do que era esperado. No disco, na turnê, nos shows.

O Black Sabbath tem 43 (43!!!!!) anos de carreira. Ok, pararam por um tempo aqui, trocou o vocal ali, mudou o nome acolá, blábláblá. Mas o fato é que os caras são quase uma unanimidade. Eles são os pais de tudo. Os responsáveis. Os precursores. Os deuses do Heavy Metal, que provavelmente não existia antes deles lançarem “Black Sabbath” em 1970 - o disco de estréia.

O show
Ah, claro, a banda de abertura: o Megadeth. Eu não conheço Megadeth. Conheço 1 música - Symphony of Destruction. Conheço a história do Dave Mustaine, que era do Metallica, e saiu porque, reza a lenda, abusou das drogas. E só. Respeito, mas não conheço... então não posso falar. Pela reação da platéia ao meu redor, o show foi bom.

O Black Sabbath - Ôô ôôôôôô
Eu já tinha visto Ozzy duas vezes anteriormente. Uma vez no Parque Antarctica - onde eu estava com as duas pernas operadas e tive que ficar apoiado nos amigos. Outra vez no Anhembi, onde choveu tanto, tanto que eu quase morri afogado.

O show começou antes do previsto, uns 20 minutos. Luzes já apagadas e de repente, a voz do tiozinho sequelado mais legal do mundo começa com o seu “Ôô ôôôôôô”. Sirenes saindo das caixas. A cortina preta subiu e eles estavam lá: Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e o baterista contratado para os shows, Tommy Clufetos. A música: “War Pigs”. Juro, eu vi metaleiro com 2 metros de altura e cara de mau... com lágrimas escorrendo no rosto!

O som estava ótimo, na altura certa (pista premium), os telões tinha boa definição, não estava absurdamente lotado. Não dava para acreditar que tudo estava tão bom!

Ozzy tem 64 anos. Corre de um jeito engraçado de um lado para o outro, se apóia no microfone e balanca a cabeleira, bate palmas no estilo polichinelo, molha o rosto em um balde de água e tem um repertório de poucas frases que repete durante todo o show:

  • I cant fuck hear you! ( colocando as mãos nos ouvidos )
  • God bless you all! We love you! ( a cada final de música )
  • Go crazy!! C’mon!!! ( no meio de todas as músicas )
- Ôô ôôôôôô ( regendo a platéia como se fosse um maestro )

Ozzy é um show a parte. Poder vê-lo ali, gritando as letras que, segundo dizem, ele mesmo não entende, é sensacional. Tony Iommi é provavelmente o cara que mais sabe fazer ( e fez ) riffs de Heavy Metal. Isso porque ele não tem a ponta do dedo médio e do anelar da mão direita, a mão que faz os acordes. Está enfrentando um linfoma que lhe obriga a tomar remédios fortes a cadas seis semanas. Disse que vai tocar “até quando for possível”. Força!
Geezer Butler - o cara que batizou a banda com o nome Black Sabbath, começou como guitarrista, mas resolveu ficar no baixo mesmo. E escrever letras. Escrever músicas. Músicas como N.I.B, Heaven and Hell, War Pigs, Sympton of the Universe, Iron Man and Computer God. Todas dele. Todas!

O "cara" que escreveu "Paranoid" & "N.I.B." - Fonte:Uol


Depois de “War Pigs”, veio “Into The Void”, “Under the Sun/Everey Day Come” e “Snowblind. 
Nesta última, jogaram um morcego de borracha no palco. Ozzy pegou, sorriu e jogou de volta para a platéia. Fico me pergutando quantas vezes esse ato se repetiu ao longo de todos esses anos.

Veio a primeira música nova, “Age of reason”. Deu pra perceber que nem todos conheciam, mas a recepção foi boa no geral. O disco “13” é muito, muito bom. Todos os ingredientes com a assinatura do Black Sabbath estão lá. Tem clima sombrio, tem baixo forte, os riffs animais, tem o assunto religião. Do jeito que um disco do Sabbath é.

Aí meu amigo, veio “Black Sabbath”. Considerada por muitos a primeira música de Heavy Metal da história. Ouvir o Black Sabbath tocá-la em 2013 é algo que eu nunca acreditava que poderia acontecer. E no final, o telão mostrou Tony Iommi fazendo o símbolo do Heavy Metal discretamente com a mão. Valeu o ingresso!

Mas ainda tinha muito mais. Tinha “Behind the Wall of Sleep”. E no final, o momento do Geezer fazer um rápido solo de baixo, que culminou na introdução de “N.I.B”. Essa introdução, tocada daquele jeito, naquela altura, fazia reverberar tudo ao redor. Simplemente animal!

Veio a segunda música do disco novo “End of the Beginning”. Puta som, puta música! Introdução soturna, mudança de tempo, bateria forte. A única ressalva: é uma música longa... quase 9 minutos! Poderia ser substituída por umas duas das clássicas, mas ok.

Os Mestres. Fonte: Uol

“Fairies Wear Boots”, “Rat Salad” e iniciou-se o solo de bateria de Tommy Clufetos. Quem gravou a bateria do disco “13” foi Brad Wilk, do Rage Againt the Machine. Para os shows, Tommy,  baterista da banda solo do Ozzy, é o responsável. Seria muito bom ver o baterista original, Bill Ward, tocando na banda e assim ver 100% do Sabbath. Guitarristas podem tocar até ficarem bem velhinhos como BB King(que tem 88 anos), ou Jeff Beck (que tem 69 anos). Baixistas também... mas bateristas precisam de um pouco mais de vigor físico para tocar. -  Ok, Charlies Watts, dos Stones, tem 72... mas ele toca beeeeem devagar, certo? - Em resumo, Bill Ward não teria a pegada necessária. E temos que tirar o chapéu para a escolha do Sabbath: Tommy Clufetos é um monstro. Ataca sua bateria com uma fúria absurda. Sem firulas, sem marabalismo, faz o que tem que fazer. 

Normalmente solos de bateria são uma coisa meio chata, mas esse cara veio mostrar serviço. Certas horas dava impressão que tinha mais alguém tocando, não era só ele.
E claro, o final do solo de bateria é o momento perfeito para ficar batendo no bumbo e introduzir “Iron Man”. Não preciso falar o efeito que essa música causa em quem gosta de Rock n Roll. Cantada (berrada) do começo ao fim por 70 mil pessoas!

A música seguinte foi “God is Dead?”, single do disco novo, a mais conhecida. Por esse motivo foi a que mais agitou das três nova tocadas. Ozzy anunciou “Dirty Women” dizendo que gosta de garotas safadas, e o telão atrás da banda exibia imagens antigas de mulheres seminuas. RocknRoll e Sexo: juntos desde que o mundo é mundo.

Seguindo o script dos shows, Ozzy gritou para a platéia:
“Vocês estão loucos? Fiquem loucos!!! Se vocês ficarem loucos, nós vamos tocar mais músicas!! Go fucking crazy!!!”

E começou “Children of the Grave”. Riff clássico. Até o Ozzy fez sinal de reverência a Tony Iommi. Se o cara faz aqueles solos sem ter sensibilidade nos dedos...

Detalhe dos "dedos postiços" do Tony Iommi. Fonte:Uol

Já sabíamos que o show estava no final, e essa música foi um êxtase total. Na platéia só tinha gente sorrindo, um bando de marmanjos, carecas, barrigudos, todos sorrindo como criança quando ganha doce.

A banda saiu, ovacionada, um barulho ensurdecedor. Então, depois de poucos minutos, a voz de Ozzy puxou o coro de “one more song, one more song”. Voltaram, e Iommi tocou a introdução de "Sabbath Bloody Sabbath" pra depois emendar em Paranoid. Foi uma versão um pouco diferente, um pouco mais lenta do que a versão que o Ozzy toca nos shows solo, mas... é “Paranoid”. Fico imaginando quantas bandas surgiram, quantos moleques compraram guitarras, quantas baquetas foram quebradas por causa dessa música. Está no meu top five das músicas de RocknRoll. Eu toco em uma banda, e esta é a única música que tocamos em TODOS os ensaios.

Acabou.  A sensação era de ter feito parte de um momento histórico. Uma aula com os verdadeiros mestres. O Black Sabbath. A banda responsável por tudo ao redor quando se trata de Heavy Metal. Ozzy é o verdadeiro Deus Metal. Que ele continue até onde der, dando seus gritos, suas corridinhas estranhas no palco . Ele agradeceu, disse que nos amava mais uma vez. E pediu mais uma vez que Deus nos abençoasse. Amém, Ozzy... Amém!

Marcelo Machado tem 36 anos e trocaria facilmente um rim, um dedo e duas costelas pela habilidade em fazer solos como Tony Iommi faz.

++++++++++++++++++++++++++

Abaixo, vídeos de War Pigs, N.I.B. e um bônus.
Agradecimentos aos caras que tiveram o dom de filmar as músicas por inteiro e compartilhar!


War Pigs - 2013 - Campo de Marte



N.I.B. - 2013 - Campo de Marte



Mettalica & Ozzy (percebam a reverência do Metallica, a felicidade do James Hetfield ao tocar junto com o Ozzy. No final, o baterista e fundador do Metallica, Lars Ulrich, diz: "Este cara é a razão pela qual estamos aqui!")



Nenhum comentário: