B. B. King
Let the good times roll... The King of the Blues!!!!
Por MM
Antes de tudo, uma apresentação para todos se situarem*
O guitarrista de blues-rock que entraria para a história como B. B. King nasceu Riley B. King, em Itta Bena, vilarejo localizado às margens do delta do rio Mississipi. Nascido no berço do Blues não era de se estranhar que o jovem King se interessasse por música, carreira que era muito mais proveitosa à época do que colher algodão, única alternativa restante. Desde a infância se interessou por blues, country, gospel e jazz.
O responsável por introduzir King no mundo artístico foi seu primo Bukka White, guitarrista de blues profissional em Memphis em meados da década de 40. Em pouco tempo B. B. King se mudaria definitivamente para Memphis, passando a se apresentar nas rádios locais e conquistando uma boa audiência entre os ouvintes negros. Nessas apresentações em rádio (na realidade shows ao vivo transmitidos) ganhou o apelido de Beale Street Blues Boy, mais tarde abreviado para Blues Boy King e finalmente B. B. King.
Em 1949 gravou suas primeiras faixas em vinil. Durante o início dos anos 50 foi produzido por ninguém menos que Sam Philips, até então um produtor medíocre. Em 1951 conseguiu pela primeira vez sucesso nacional nas paradas de r&b com a música Three O'Clock Blues. Aproveitando a boa repercussão montou a banda Beale Streeters (com o vocalista Bobby Bland, o pianista Johnny Ace e o baterista Earl Forest).
Conta a lenda que nesta turnê a sua lendária guitarra Lucille foi batizada. Após arriscar a vida para salvar a guitarra de um incêndio em um bar em Arkansas, King chegou à conclusão que algo tão importante para ele não podia ficar sem um nome. Ao contrário do que se pensa, porém, Lucille não é apenas uma guitarra, mas várias, que ele trata como uma só.
Durante as últimas décadas o estilo de King praticamente não mudou. Foi um dos poucos artistas de blues (senão o único) a conseguir manter-se em evidência durante tantos anos sem tornar seu som comercial. Continua tocando para platéias pequenas, com a mesma paixão de sempre, simpático com os fãs e respeitado por qualquer guitarrista de blues ou rock que se preze.
Ok, agora você sabe de quem vamos falar. Como diz o mestre de cerimônias no show:
“Ladys and Gentleman... The King of The Blues : BB KING!!!!!”
Domingo, 3 de dezembro
de 2006, Via Funchal – São Paulo
Blues... será aquela música de tiozinhos que insistem em tomar whisky quente (caubói) em ambientes enfumaçados, sempre tendo um negão chamado “Charlie” ao piano?
Talvez sim, talvez não. O fato é que os anunciados últimos shows no Brasil da turnê mundial de despedida “The Farewell Tour” tiveram lotação esgotada. Só em SP foram quatro apresentações, sendo uma beneficente e mais três no Via Funchal.
A última, na segunda-feira dia 4, foi marcada de última hora devido à grande procura. BB King tocaria ainda no Rio de Janeiro e em Curitiba.
A apresentação beneficente foi na casa Bourbon Street, reduto de blues em SP que foi inaugurado em 1993, com um show de quem?? Sim, dele, BB King. Alguns lugares foram leiloados e chegaram no valor de pouco mais de 4 mil reais!
Ok, chega de números e vamos ao show:
Com atraso de 40 minutos, entra a banda que começa fazendo um número de blues.
Cada um dos integrantes (metais, baixo, guitarra, teclados e bateria) tem o seu momento de fazer solo. Parece uma jam session. Os integrantes da metaleira ficam passeando pelo palco, sentindo o clima, estalando os dedos. Isto tudo dura por volta de 20 minutos. São de certa forma, regidos pelo “band leader” Bugaloo, o trompetista. Um negrão gordo, metido a dançarino que é uma figura e está na banda há 27 anos.
Até que outro integrante da metaleira, vem ao microfone no centro do palco, diz algumas palavras com um sotaque dificílimo (ao menos para mim) de entender, e chama ele, o rei do Blues.
BB King já passou dos 80 anos. Tem diabetes, a qual já levou sua sensibilidade da ponta dos dedos. Tem dores nas costas e por tudo isso, caminha muito devagar. Sua entrada ao pouco causa uma comoção na platéia de tal forma, que creio que não precisava mais nada. Só o fato deste camarada estar ali presente já é um show. Ele agradece, faz reverência ao público. Se acomoda, recebe sua “Lucille” de seu fiel escudeiro Bugaloo e inicia o show fazendo algo que muitos não gostam: falando muito. Pede desculpas pelo idioma, diz que não está bem das costas, dos joelhos e nem da cabeça, por isso vai tocar sentado.
Daqui pra frente, temos aproximadamente uma hora e meia de um verdadeiro show. BB King conversa muito, muito mesmo. Ao final de cada música, sempre agradece. Diz um “obrigado” carregado, lembrando que essa é a única palavra que aprendeu no nosso idioma, mas que ainda diz com um sotaque de Mississipi. Toca sua guitarra de forma econômica, ligando e desligando várias vezes, dando a oportunidade de todos na banda fazerem seus solos e brilharem juntos. Coisa de quem sabe que não precisa provar nada para ninguém.
Na apresentação da metaleira, cada um dos integrantes, na sua vez, dança no palco divertindo muito a platéia. Ao apresentar o guitarrista, BB King chama-o de “young man” causando uma reação engraçadíssima no resto da banda. Todos gritam, fazem protestos, jogam toalhas no chão e tal. BB King olha para a platéia com ar de “como esses caras são chatos” e diz que comparado a ele mesmo, todos na banda são garotos.
Um momento marcante nos seus shows: Após apresentar a banda, empunha sua Gibson
no alto, dá um beijo carinhoso nela e diz: Esta é Lucille, minha guitarra! Alguns aplaudem de pé...
Diz que tem 81 anos de idade, 60 de carreira, e que as pessoas se surpreendem ao saberem a sua idade. Comenta que está bem devido aos bons médicos que o acompanham, o Dr Viagra, a Dra. Cialis e o Dr. Levitra. Espera as risadas da platéia e fala que quando nós chegarmos aos 80 anos, também precisaremos consultar esses doutores.
Mesmo falando muito, é constantemente interrompido pelos aplausos da platéia. Ao final de cada frase, é muito saudado por todos os presentes.
Sua conhecida faceta de galanteador tem grande participação no show. Diz que as mulheres são a inspiração de Deus na Terra. Que todas são bonitas, e algumas são lindas. Brinca com alguns casais na platéia, diz para os homens fazerem aquela cara de “cachorrinho perdido na chuva” cantarem e dedicarem a canção “I’m Sorry” somente a elas.
O repertório do show é diversificado, com canções ditas mais novas, misturadas a versões diferenciadas de antigos sucessos, como a versão acelerada de “Bad Case of Love”. Eu senti falta de “I’ll Survive” e “Caldônia”.
Após tocar “The Thrill is Gone” foi aplaudido por mais de um minuto. Antes de “Ain´t that just like a woman” pediu permissão às mulheres para poder cantá-la (procure a letra para entender o porquê). Em “Rock me Baby” comandou o coro da platéia e em “You are my sunshine” disse que como não estávamos em um país de língua inglesa, quem não soubesse a letra poderia fazer “humm hummm hum hummm”.
Ele sabe ser carismático. Joga palhetas para a fila do gargarejo, posa para fotos, sacode na cadeira, faz caretas, dá autógrafos. Tudo isso, enquanto sua banda faz os viajantes solos. Showtime.
BB King fará falta nos palcos do mundo. Soube perceber a tempo as limitações que vêm junto com a idade e sabiamente anunciou sua despedida com uma turnê mundial.
Disse que continuará tocando, mas sem mais viagens. Apenas em casa, no seu bar.
Um verdadeiro Bluesman, que se “explica” na letra da canção de mesmo nome:
Bluesman (Understand)
I've traveled for miles around
It seems like everybody wanna put me down
Because I'm a blues man
But I'm a good man, understand
I went down to the bus station
Looked up on the wall
My money was too light, people
Couldn't go nowhere at all
I'm a blues man
But a good man, understand
The burdens that I carry are so heavy, you see
It seems like it ain't nobody in this great big world
That would wanna help old B.
But I will be all right, people
Just give me a break
Good things come to those who wait
And I've waited a long time
I'm a blues man but a good man, understand
Só resta dizer: Valeu B! God bless you!
Set List (incompleto e fora de ordem... isto é BLUES!!!)
The Thrill is gone
When love comes to town
Rock me baby
Key to the highway
Ain´t that just like a woman
Bluesman
When the saints go marching in
You are my sunshine
How blue can you get
All over again
Bad case of love
*Fonte: http://www.whiplash.net/
NR1 - Como eu já previa no review do show do New Order, o Via Funchal é um péssimo local. E desta vez além dos problemas com a equalização do som (que nem foi tão complicada, pois BB King sempre traz uma equipe completa de produção), houveram seríssimos entraves com os lugares vendidos na platéia. Alguns foram vendidos duas, três vezes, outros lugares simplesmente não existiam. Isto fez com que este que vos escreve tivesse que assistir o show em um camarote. Não, isso não foi bom, porque acreditem, meu lugar original na fila de cadeiras era melhor que o camarote... enfim.
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