domingo, setembro 28, 2008

A Cachorrada no Rose BomBom!

por MM em 15/12/2005 - Rose BomBom
originalmente postado em http://ricardobunnyman.sites.uol.com.br/


Como definir Rock' n' Roll? Tarefa ingrata e praticamente impossível. O Rock tem estilos, atitudes, bandeiras, ideais, tudo isso numa variedade absurda. Duas pessoas que curtem rock podem ter opiniões diferentes sobre a mesma banda, o mesmo estilo. É praticamente impossível rotular isso além de simplesmente “Rock” que vai da viagem do Pink Floyd ao “One, Two, Three, Four” dos Ramones...



Quinta-feira, 15 de dezembro – Casa Rose BomBom em SP. Show da banda Cachorro Grande com abertura dos Rock Rockets.
O Rose BomBom é uma casa que nasceu na década de 80, fechou por um tempo e agora volta a ativa ali na região da Vila Madalena (SP), área que tem muitos barzinhos no estilo Rock' n' Roll. A programação é variada, indo da Black Music ao punk. Nas quintas-feiras, o bom é a noite CBGB – nome da histórica casa de shows de Nova York que foi o berço do punk rock.

Cheguei na casa por volta de 1:40 da manhã. Dizem que o Rock Rockets é um trio paulistano que dizem fazer um bom som, mas desta vez eu não estava lá para assisti-los, numa próxima, talvez. Sendo assim, cheguei quando davam seus últimos acordes.

Não cheguei a frequentar o antigo Rose BomBom, mas posso dizer que o novo é um ótimo lugar para que gosta de Rock' n' Roll e conhece um pouco mais do que rola nas rádios. Em qual outro lugar você ouve The Who, Animals, Nirvana com “Territorial Pissings”, Pistols ou Iron Maiden com Paul D’iano fazendo “Running Free”? (essa é a diversidade da qual falava lá no primeiro parágrafo) Lugar relativamente pequeno, bom pra shows de rock, som absurdamente alto mas equalizado.

O público é predominantemente voltado ao rock. Coturnos, cabeleiras, metal, tachinhas e preto, muito preto. Mas havia também um número considerável de “covers” dos caras do Good Charlotte ou Simple Plan... Dava para montar umas cinco bandas dessas com o visual de alguns presentes.

Montagem de instrumentos ok, 2:05hs da manhã, a cachorrada entra no palco. Desde que vi o clipe de “Lunático” na MTv numa noite dessas, fiquei curioso e busquei conhecer um pouco da Cachorro Grande. Em resumo, a banda foi formada no final de 99 em Porto Alegre. Aquele lance da galera que já tem uma banda, que vive se trombando nos shows locais e descobre que tem o mesmo gosto musical, a mesma pegada e a mesma vontade. Beto Bruno (vocal), Marcelo Gross (guitarra), Gabriel Azambuja (bateria), Pedro Pelotas (piano) e o novo baixistas Rodolfo Krieger, que substituiu Jeronimo Bocudo. Os caras tem três discos lançados, Cachorro Grande, As Próximas Horas Serão Muito Boas (ambos de 2004) e o último, Pista Livre de 2005 que jogou luz sobre a banda e rendeu até um acústico MTv, dividido com outras 3 bandas gaúchas (Ultramen, Wander Wildner, Bidê ou Balde).

A banda dá uma aquecida com um som que me lembra Foxy Lady do Hendrix e já ataca com “Você Não Sabe o Que Perdeu”, “Agora eu Tô Bem Louco” e “Hey Amigo”. Beto Bruno dá boa noite geral e anuncia “Desentoa” (com direto a erro na letra) que tem clipe rolando na tv. Por mais que se falem mal de bandas novas, “hypes”, do momento ou afins, é preciso reconhecer que o som da Cachorro Grande remete à falta de compromisso e à diversão. Tem banda de rock que tem diversos objetivos, criar estilo, ganhar grana, levantar uma bandeira contra o “sistema” (nada contra), etc. Mas os Cachorros dão a nítida impressão que só querem se divertir. Parece que eles fazem um show como se eles mesmos estivessem assistindo da platéia. Não quero dizer com isso que os caras são metidos ou coisa do tipo, mas simplesmente procuram aquele lance de “tocar umas músicas, tomar umas cervejas, zuar um pouco e dar risada com os amigos”.

O público presente cantou em uníssono as quatro músicas de abertura e ainda cantaria as outras que viriam, do primeiro e segundo disco. Prova de que os caras já tem alguns fãs de verdade.
O guitarrista Marcelo Gross cantou “Dia Perfeito”. No acústico Mtv, tiveram a participação do Paulo Miklos nessa música e o cara estava lá no RoseBom Bom. Durante os solos de “Vai T.Q. Dá”, o cara surge do backstage com uma bandeja de sanduíches e começa a jogar para a galera. Mas Miklos ainda teria a sua segunda aparição no show ainda mais desconcertante que a primeira.

Beto Bruno é aquele vocal esganiçado (primeira parte da equação Cachorro Grande), que não tá nem aí para falsetes, oitavas ou coisas do tipo. O cara berra ao microfone de um jeito que parece que vai arrebentar as cordas vocais. Sabe John Lennon em “Twisted and Shout”?? Pois é, daí pra cima.

Marcelo Gross toca aquela guitarra suja (segunda parte da equação Cachorro Grande), que se estiver desafinada você nem vai perceber direito.

Gabriel Azambuja segura as baquetas como se fosse dois martelos (terceira parte da equação Cachorro Grande) e faz de sua bateria uma bancada de marceneiro.

Rodolfo Krieger faz bem a sua parte, mas parece que ainda não tá no gás do Cachorro. É bem mais sossegado.

Pedro Pelotas senta ao seu piano no cantinho e toca com a mesma facilidade que entorna várias copos de cerveja / whisky ou sei lá o quê que tinha naquele copo!!
O que é legal na Cachorro Grande é justamente essa equação de Vocal esganiçado, Guitarra suja e Batera loca. O show dos caras é meio que uma porrada no estômago. Faz bem ver que ainda tem bandas que fazem esse rock despretensioso. Claro que também é legal de vez em quando aqueles solos intermináveis, as viradas de bateria calculadas, os altos agudos e tudo o mais. Mas o fato é que, pra quem gosta de Rock, aquela música rápida, gritada, agitada que poderia muita bem estar saindo de qualquer garagem por aí cai muito bem! Só para divertir.

Porrada atrás de porrada, os caras terminam a primeira parte do show. A galera na fila do gargarejo pede o bis e os caras voltam com a única balada dos três discos, “Sinceramente” que está no “Pista Livre”. Acho que é uma forma deles descansarem...

E já que descansaram, aceleram de novo com “Sexperienced”, e tome a equação RocknRoll de novo.

Pra finalizar, Beto chama ao palco Paulo Miklos e os amigos Tuba e Marcos da banda Faicheclers para tocar uma cover dos Beatles, uma das maiores influências da banda, “Helter Skelter”. Aqui as atrações eram o baterista dos Faicheclers, Tuba, conhecido por quebrar estantes, peles e baquetas de tanta energia que usa ao tocar e Paulo Miklos que merece um parágrafo a parte.

O cara estava muito, muito, muito louco de sai lá o quê. No começo da música ficou boa parte do tempo parado, fazendo cara de mau, talvez encarnando o seu personagem de faoreste na novela da globo. Aí depois começou a apontar para a galera, como se estivesse com um revólver na mão e por último começou a sacolejar como se estivesse recebendo um espírito. Não soltou uma palavra. Eu vi um show dos Titãs no mês passado e é interessante ver como o cara realmente fica “á vontade” quando não está a trabalho.

Enquanto isso, o resto da(s) banda(s) finalizava(m) o show com um barulho ensurdecedor na caixas de som.


Este foi o últmo show dos Cachorros em SP. Agora só no ano que vem. Se você é daqueles que gosta de Rock, vai nos shows para pular, suar, pogar, cantar (berrar) até ficar rouco, recomendo que assista esse.

É bom saber que ainda há bandas que seguem essa vertente do RocknRoll. Saí do Rose BomBom suado, rouco, as 4 da manhã para trabalhar no dia seguinte mas...feliz pra caralho!


Set List (fora de ordem)

Do primeiro CD tocaram:

Lunático
Sexperienced
Debaixo do meu Chapéu
Lili
Pedro Balão
Dia Perfeito
Vai T.Q. Dá


Do segundo:
Hey Amigo
Tudo por Você
As Proximas Horas Serão Muito Boas
Que Loucura
O Truque do Ovo


Do novo:
Você Não Sabe o Que Perdeu
Agora Eu Tô Bem Louco
Desentoa
Super Heroi
Sinceramente
Velha Amiga

MM tem 28 anos, e estourou os alto-falantes do carro escutando a discografia da Cachorro Grande do jeito que esse tipo de som deve ser escutado: No Talo!!

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