domingo, setembro 28, 2008

Arnaldo
Antunes


São Paulo - Auditório do Ibirapuera - 12/11/2006


originalmente postado em http://ricardobunnyman.sites.uol.com.br/



Ele não vai se adaptar

por MM


Domingo, 12 de Novembro.
Frio, bem frio. E confesso que se não houvesse combinado para ir a esse show, não sairia de casa. Mas eu prometi e marquei com uma amiga que iria, e eu não sou do tipo que promete e não cumpre.

Auditório do Ibirapuera – faz um bom tempo que eu não vou ao parque do Ibirapuera, e sinceramente, não lembro de ter reparado à construção que atende pelo nome de Auditório, localizada próxima a Oca. De qualquer forma, é lá o lugar que Arnaldo Antunes escolheu para a estréia nacional do seu show e cd denominado “Qualquer”. Segundo o flyer entregue na porta do auditório, este cd foi lançado em outubro pela gravadora Biscoito Fino. É o sétimo cd solo de Arnaldo e tem parcerias com Adriana Calcanhoto, além de, adivinha? Marisa Monte e Carlinhos Brown.

Este cd foi gravado no esquema ao vivo, e sem bateria. Somente violões, guitarras, acordeon e teclado são somados à voz.A idéia era justamente demonstrar a sonoridade possível de ser alcançada sem utilizar instrumentos de percussão. Escutei rapidamente alguns trechos de faixas do cd, e é clara a influência de ritmos nordestinos, como baião e forró ao longo do disco.

Com um atraso mínimo, sobem as cortinas do imenso palco e aparecem posicionados Chico Salem (violões) à direita, Betão Aguiar (guitarras) mais ao centro e Marcelo Jeneci (acordeon e teclados) à esquerda. Arnaldo entra no palco trajando uma calça de yôga (segundo minha amiga), camisa e coletes cinza. A música de abertura é “Qualquer”. Músicas de Arnaldo Antunes tem uma identidade não muito difícil de ser reconhecida. A letra diz entre outras coisas: “qualquer curva de qualquer destino que desfaça o curso de qualquer certeza”. Boa noite São Paulo, boa noite Ibirapuera e Arnaldo vai seguindo seu repertório baseado em músicas do
novo disco e de álbuns anteriores. Não anotei o set list corretamente. Rolaram músicas como “Se você”, “Se tudo pode acontecer”, “2 perdidos numa noite suja”, “Fim do dia”.

Arnaldo parece levar a sério aquela expressão que diz “Dance como se ninguém estivesse olhando”. No caso dele eu acrescentaria “e como se o ritmo fosse algo secundário”. A forma como ele se mexe no palco é um ponto à parte no show. No início deu para perceber que parte da platéia segurava as risadas, mas todos se acostumaram e entenderam que isso é parte do show. Arnaldo se arrasta, trança as pernas, chuta o ar, pula, corre, poga, senta no chão, derruba o microfone, se enrola nos fios, dá cambalhotas. Tem a elasticidade e movimentação de uma criança. E após compreender essa movimentação toda, isso se torna algo meio
hipnótico para o público. Ele agradece a presença de todos e fala sobre o lançamento do cd “Qualquer”.


Em um determinado momento, chama o convidado da noite, que também participou na gravação do disco. Edgar Scandurra, guitarrista da banda Ira. A música a ser executada é “Para lá”, parceria de Arnaldo e Adriana Calcanhoto. Scandurra fica no palco por umas cinco músicas, com a sua indefectível guitarra verde fazendo efeitos estilo Wah-Wah não com o pedal, mas com o microfone.

Em “Socorro” Arnaldo deita no palco e ao final deixa que a platéia cante as estrofes finais incitando “Eu quero ouvir vocês!!!”. Após a música, ele diz que “a palavra Qualquer esteve sobrevoando o disco, pois aparece em várias músicas. E então, a gente resolveu deixa-la pousar”. A platéia aplaude, e vai crescendo em entusiasmo junto com o artista.

Uma bela canção chamada “Saiba”. Em suas estrofes coisas como:

Saiba: todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem

Saiba: todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu

Saiba: todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar

Um parágrafo sobre a casa. O auditório Ibirapuera parece ser um daqueles locais que te estimulam a querer ver mais shows, sejam eles quaisquer. O local é extremamente agradável. Possui um grande hall de entrada, todo em branco com detalhes em vermelho. O palco, grande tanto em largura quanto em profundidade, é rebaixado e de qualquer uma das confortáveis cadeiras estofadas cobertas com tecido vermelho a visão é boa. Ótimo lugar para espetáculos mais tranqüilos, assim como o de Arnaldo. No fundo, imagens são projetadas a cada música. Eram imagens de... é...bem... Bom, é um show do Arnaldo Antunes, como definir algo de
maneira simples?? Eram imagens e pronto!

Músicas da época dos Titãs também estão presentes no repertório, como “Não vou me adaptar” tocada em uma diferente versão meio forró. Versões de “Bandeira Branca” e “Qualquer Coisa” e “O Silêncio” marcam presença.

Final da primeira parte do show, Arnaldo agradece e todos saem do palco. Alguns poucos minutos, o violonista Chico Salem volta. “Exagerado” de Cazuza com algumas estrofes de “Sem pecado e sem juízo” de Baby do Brasil fazem o início do bis.

A segunda música, esperada por muitos e até por esse que vos escreve, foi uma versão reduzida de “Pulso”. Será que ele não lembra mais a letra?

Scandurra é chamado ao palco novamente. O show encerra com “Lua Vermelha”, composição em parceria com Carlinhos Brown. Boa melodia, tranqüila, com aquele sentido que só Carlinhos saberia explicar. Mas definitivamente, Arnaldo Antunes e seu som não se explicam, apenas se aproveitam.


MM tem 29 anos, e não se arrependeu de sair de casa no domingo numa noite fria para ver um show “qualquer”.

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