domingo, setembro 28, 2008

Evanescence

As portas abertas e as dores - 22/04/2007


Sábado, 22 de
abril de 2007, estádio Palestra Itália, SP


originalmente postado em http://ricardobunnyman.sites.uol.com.br/

Por MM
Como sofre essa Amy Lee...



A banda esperou, esperou e esperou (até demais) mas finalmente o Evanescence, liderado pela vocalista Amy Lee, aportou em terras brasileiras para um total de quatro shows, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.

Um pouco de história. O embrião do Evanescence surgiu quando em 1994, o guitarrista Ben Moody e a vocalista Amy Lee, com 14 e 13 anos respectivamente, se conheceram em um acampamento para jovens. Ben viu Amy tocando piano e cantando, e depois de um xavequinho qualquer, resolveram que montariam uma banda. Aí aconteceu tudo aquilo que acontece com todas as bandas. Tocaram nuns inferninhos, gravaram demos e o EP de nome “Origin” em 2000 (onde está registrada a música “My Immortal”). Correram atrás até o sucesso chegar junto com o primeiro álbum oficial, “Fallen”, que só foi lançado em 2003. Nesta época a banda contava com Amy Lee, Rocky Gray (bateria), John LeCompt (guitarra), David Hodges (baixo) que ficou pouco tempo e nem saiu em turnê sendo substituído por Willian Boyd e Ben Moody (guitarra). Este álbum vendeu 14 milhões de cópias, rendendo até 2 Grammys à banda.


No final de 2003, Ben Moody cansou da brincadeira e decidiu dar área sem mais nem menos, deixando Amy Lee muito puta da vida, afinal, a banda estava engrenada e perdia o seu principal guitarrista e compositor. Reza a lenda que rolou um aprochego entre os dois, o que deve ter deixado a Amy mais puta ainda. Hoje ela costuma dizer que nunca mais vai trabalhar com o cara (tô de mal). No lugar de Ben, entrou Terry Balsamo.

Aí em julho de 2006, o baixista Willian Boyd também resolveu sair fora, sendo substituído por Tim McCord. Essa formação ficou e segue até hoje.


Vamos ao show
Apesar de muito esperado pelos fãs brasileiras, as apresentações da banda no país não tiveram lotação esgotada em nenhuma cidade*.

Em Porto Alegre, foram somente 8 mil pessoas. Em São Paulo, somente 25 mil do total de 35 mil ingressos foram vendidos.

Desde o dia 9 de abril, alguns fãs mais afoitos acampavam às portas do Parque Antarctica na esperança de ficar mais perto da banda. Rolaram alguns percalços no caminho, inclusive o fato de uma fã ter sofrido um atropelamento na porta do estádio. Coisas...


Duas bandas de abertura, ambas vaiadas nos shows anteriores. Não posso dizer nada delas, pois não cheguei no local a tempo de conferir.

Ao entrar no estádio pude confirmar o que já esperava: O Parque Antarctica estava vazio. O único setor que parecia estar completamente tomado era o das cadeiras cobertas. Pista e arquibancada geral estavam tranqüilas. (Cambistas vendiam ingressos a 60 reais, metade do preço original). Pude ficar a alguns metros do palco, sem empurra-empurra e nem precisei dormir na porta do estádio, mas enfim...

A montagem do palco do Evanescence começou por volta das 20h30. Uma grande cortina preta e branca foi fechada, escondendo alguns detalhes. O curioso aqui é que neste estádio, absolutamente nada pode ser preto e branco... será que a Amy pagou uma multa?

A arquibancada fazia um barulho infernal a qualquer movimentação no palco. Enquanto os instrumentos eram afinados e ligados, o pessoal gritava, cantava, urrava... nem a fraca chuva que insistia em cair desanimava essa galera. Galera composta em sua maior parte por meninas com trajes negros. Algumas acompanhadas do pai ou irmão mais velho.

Exatamente as 20h59, as luzes se apagaram, as cortinas se abriram e a banda iniciou o show com “Sweet Sacrifice”, do recém-lançado “The Open Door”. Seria a primeira das diversas músicas estilo “meu mundo caiu” de Amy Lee. Ela é esperta, sofre por amor como todos, mas ao invés de se trancar no quarto, escreve músicas que são instantaneamente consumidas.

“ Um dia eu esquecerei o seu nome e um doce dia, você estará afogado na minha dor perdida” – trecho de Sweet Sacrifice



O palco não gera grandes impactos. Só um painel atrás do baterista com o símbolo da banda (um grande “E” estilizado) e dois pequenos painéis de cada lado. Há também um telão de cada lado, possibilitando uma visão tranqüila. O som está baixo, e olha que estou a poucos metros das caixas de som.

O show segue, e na terceira música, o primeiro grande hit “Going Under”. A galera, em sua maior parte formada por adolescentes, canta do início ao fim. Amy Lee dá boa noite, agradece a todos e diz que é tudo por causa dos fãs, os fãs que pediram, choraram e gritaram, e por isso eles estão no Brasil. Diz que é uma honra.

“Vou te contar o que tenho feito por você
Já chorei 50 mil lágrimas,
gritando, enganando, e sagrando por você
E, ainda sim, você não me ouve...” - Trecho de Going Under

Durante a semana, os fãs armaram surpresas para o show, uma delas foram as bexigas brancas que apareceram durante a música “Lithium”, o atual som que está sendo tocado nas rádios. Com o piano no centro do palco, Amy Lee parece se surpreender com a manifestação da platéia.


“Venha para a cama, não me faça dormir sozinha
não consegui esconder o vazio que você mostrou
nunca quis que fosse tão frio
apenas não bebeu o suficiente para dizer que me ama” – Trecho de Lithium


Muita gente acha que o Evanescence é uma cópia descarada do Nightwish (que compareceu ao show em algumas camisetas), que a banda não tem atitude, que é um produto fabricado.
Tudo isso pode ser verdade, mas o talento vocal de Amy Lee tem de ser reconhecido. Sua voz é realmente forte e faz frente pesada ás guitarras do resto da banda.

O resto da banda... nenhum dos outros membros do Evanescence se destaca durante o show. Cada um faz a sua parte sem muitas firulas. Não há solos longos, virtuosismo, performances, nada, nada. E os telões do Parque Antarctica contribuem para isso... de vez em quando mostram o baterista Rocky Gray e só. É Amy Lee o tempo todo. E aproveitando, falemos dela.


Um pouquinho acima do peso (Não há nada sexy em pele e osso. você tem de ter alguma carne. – disse ela certa vez), cabelos ora presos ora soltos e com pouca maquiagem emoldurando os belos olhos verdes, ela faz seu show particular balançando os braços, rodando em seu vestido cor de vinho e soltando um ou outro sorriso para as câmeras. Não chega a agitar muito, mas é suficiente para os fãs de verdade. Conversa um pouco e manda muitos “obrigada”.

Antes da execução de “Tourniquet”, ela pergunta quem fala inglês. Obviamente quase todos levantam os braços e gritam dizendo que sim. Ela diz um “Thanks God” e pede que ao contar até 3, todos dêem dois passos atrás, sem explicar porque. E mais uma vez, obviamente, nem todo mundo entende. Ela tenta de novo, e de novo, até que alguns se movem e ela se dá por satisfeita.

Outro momento de explosão da platéia vem em “Call me when you´re sober”, também do disco novo cantada do começo ao fim. A banda insiste em dizer que as suas letras não são necessariamente tristes, mas que mostram um outro lado, que tudo pode começar outra vez. Veja um fragmento de “Call me...” e tire suas conclusões.


“Você nunca me liga quando está sóbrio
Você só quer, porque acabou, acabou
Como eu pude queimar o paraíso?
Como pude? Você nunca foi meu”


Outro grande hit do disco anterior, “Bring me to life” , que na versão original tem duas partes cantadas por Ben Moody. No show, o guitarrista Terry Balsamo não faz questão de participar e só vai ao microfone em alguns momentos.

O show segue, Amy Lee anuncia que irão tocar somente mais algumas músicas. Após “Lacrymosa”, a galera tinha preparado outra surpresa, cantar uma música da banda, mas não houve tempo e nem sincronismo. Amy Lee surgiu ao piano e a introdução de “My Immortal” ecoou nas caixas de som. Desnecessário dizer que os celulares se acenderam e ela quase não precisou cantar. O coro da platéia feminina, presente em todo o show, mostrou ao que veio. Amy Lee entendeu e deixou alguns versos por conta das fãs. No dvd “Anywhere but home” gravado ao vivo em um show em Paris, nas cenas de bastidores durante esta música, os outros
integrantes da banda ficam fazendo graça e imitando os trejeitos de Amy enquanto ela está ao piano tocando e a platéia se descabelando. Os caras tem que se divertir não é?


“Eu não posso mudar quem eu sou
Não desta vez, eu não irei mentir para manter você perto de mim
nesta curta vida, não há tempo pra perder desperdiçando
meu amor não foi o suficiente” – trecho de Lacrymosa

A última música, “Your Star”, também é do último disco. Amy Lee agradece, sai do palco. O guitarrista Terry joga umas palhetas, brinca com a platéia. O baterista Rocky manda umas baquetas e é só. Acabou o show. Tão simples que eu ainda fiquei parado esperando algo acontecer. E então entrou a equipe para desmontar o palco.
The End.


Enfim, acho que foi um show que agradou somente quem realmente é fã da banda (fã perfil Iron Maiden, manjam?). Durante 1h20, eu assisti mas não me empolguei nem um pouco. Talvez eu esteja ficando velho, talvez o Evanescence tenha demorado a vir ao Brasil, talvez as duas coisas. Morno, quase frio. Acho que eu preferia os discos anteriores. Mas ok, eu não tinha nada pra fazer mesmo...


Na saída, caminhando pela avenida Francisco Matarazzo em direção ao estacionamento, sou abordado por um taxista que pergunta: “ O show já acabou?”. Olhei bem pra ele e respondi: “ Pra falar a verdade... acho que nem começou...”.
Ele não deve ter entendido nada...


Set list

1. "Sweet Sacrifice" ("The Open Door")
2. "Weight of the World" ("The Open Door")
3. "Going under" ("Fallen")
4. "The only One" ("The Open Door")
5. "Lithium" ("The Open Door")
6. "Good Enough" ("The Open Door")
7. "Haunted" ("Fallen")
8. "Tourniquet" ("Fallen")
9. "Call me When You´e Sober" ("The Open Door")
10. "Imaginary" ("Fallen")
11. "Bring me to Life" ("Fallen")
12. "Whisper" ("Fallen")
13. "All That I'm Living for" ("The Open Door")
14. "Lacrymosa" ("The Open Door")
15. "My Immortal" (Fallen)
16. "Your Star" (The Open Door)

*Nota da Redação – Este review foi escrito no domingo, 23 a tarde. Quem sabe o público carioca faça um milagre.


MM tem 29 anos e prefere se arrepender das coisas que faz do que daquelas que não faz.

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