domingo, setembro 28, 2008

Roberto Carlos

São Paulo - Credicard Hall - 10/11/2006


originalmente postado em http://ricardobunnyman.sites.uol.com.br/




Muitas, muitas emoções


por MM & Ricardo Bunnyman


Se você conhece o Bunnyman (dono do site), eu (colaborador do site), ou acompanha este site há algum tempo, deve estar se perguntando: “Que raios esses caras estão agora escrevendo sobre show do Roberto Carlos??????”


Bom, antes de tudo, eu sempre disse que algumas coisas têm que ser feitas nesta vida. Não vou estender a lista aqui, mas com certeza, ver um show do Roberto Carlos está incluso. Claro, isso se você gosta de música e independente de qual é o seu estilo preferido. Com certeza esse cara deve ter influenciado alguma banda, artista ou som que você gosta hoje. Isso é inevitável.

Para aqueles mais novos, para aqueles que já responderam “Maconha” quando o Skank diz “É proibido fumar!”, ou para aqueles que cantaram “É preciso saber viver” junto com o Titãs ou, mais recentemente, quem gostou e pulou ao som de “Além do Horizonte” com o Jota Quest. Pois bem crianças, são todas músicas do Rei.


Eu, Bunnyman e sua respectiva noiva, Andrea, acompanhados de nossos pais (belo álibi para ver um show do Rei, não?) nos dirigimos ao Credicard Hall. Tínhamos a impressão que seria um inferno para conseguir chegar e estacionar, já que em um show deste tipo de público, não tem papai-me-leva-deixa-na-porta-e-me-pega-depois-do-show e nem-vamos-de-ônibus-mesmo.

Erramos. Acho que nunca foi tão simples chegar e estacionar em um local de show em toda a mnha vida!

Uma profusão de senhoras bem vestidas (outras nem tanto), maquiadas, tiozinhos, vovós, vovôs, cabeças brancas. Sem precisar ser revistado na porta, seguranças e funcionários da casa extremamente pacientes para indicar o assento correto e ajudar as vovós a subirem as escadas. Realmente, é um show para os súditos da realeza.

Marcado para as 22 horas, o show só começa às 22h38h. Sobem as cortinas do palco e o coral e banda (acho melhor dizer orquestra) do Rei iniciam com um medley de músicas. Mais tarde, o próprio Rei informaria que o nome da orquestra é RC9, apesar de às vezes contar com mais de 50 integrantes dependendo do show. Duas guitarras, baixo, bateria, órgão, piano, metaleira e percursão, além de três pessoas no coral e um maestro.

A banda (ops, a orquestra) está disposta no palco de uma maneira em que é praticamente impossível ver seus rostos. E a iluminação contribui muito para isso. A cor azul predomina nas vestes e nas luzes. O locutor anuncia: “Senhoras e Senhores, com vocês... Roberto Carlos e Orquestra”. Eis que surge Sua Majestade. Terno azul (óbvio) camisa e sapatos brancos (mais óbvio ainda) e um cinto com uma fivela de impor respeito a qualquer caubói. A banda está
executando os acordes de “Emoções”. Parte da platéia está meio embasbacada e a outra parte grita absurdamente. A banda dá a deixa, o Rei dá uma suspirada ao microfone – eu nunca vi uma suspirada causar tanto furor em uma platéia – e solta:“Quando eu estou aqui... vivendo este momento lindo...”


Amigos, eu me sentia dentro de um especial da Rede Globo no dia 25 de dezembro.
Desde que eu me conheço por gente, todo show do Roberto Carlos que passa na tv começa com Emoções, termina com Jesus Cristo e as indefectíveis rosas sendo jogadas a platéia. Sim, eu já sei que vou ver isso de novo. Mas definitivamente, ver isso ao vivo... he he he... são muitas emoções, bicho (trocadilho inevitável quando se fala de Roberto Carlos).

Ao final da música de abertura, as primeiras palavras de Sua Majestade. Boa noite, agradecendo por estarmos ali, pelo carinho, por esse amor, por tudo de bom que temos lhe proporcionado durante todos esses anos Agradece ao patrocinador também e diz que poderia dizer muito mais, mas que prefere continuar cantando. Pausa dramática e... “Eu tenho tanto... pra lhe falar... mas com palavras, não sei dizer... como é grande...”

Claro, não preciso dizer o que introduções como essas, somadas à voz grave amplificada no microfone causam na platéia. Uma senhora atrás de mim está literalmente tendo um orgasmo. E olha que é somente a segunda música.

Próxima música, “Além do horizonte”.

Em algum lugar eu li uma declaração onde ele disse não ser um bom instrumentista. As luzes se apagam e acendem revelando-o com um violão no colo. Sim, o Rei não é um bom instrumentista. Mas quem se importa com isso, quando a música que vem é “Detalhes”.

Músicas: “Não quero ver você triste”, “Eu estou apaixonado por você”

E então o Rei inicia um medley com músicas da Jovem Guarda, “Aquele beijo que eu te dei, Splish Splash”, “Negro Gato”. Aqui ele diz que “não lembra muito bem da letra dessas canções, o que significa que a terapia está funcionando”. Em “O Cadilac” percebe-se uma movimentação diferente do lado direito do palco. As luzes se apagam, pausa dramática e ao acender novamente, um enorme cadilac inflável, vermelho cintilante, como diz a música, aparece do nada atrás do Rei, que puxa a manga do paletó e dá uma pequena polida na porta. Efeito simples e bem sacado.

Luzes apagadas de novo ( os cenógrafos trabalham muito neste show ). O piano branco que estava do lado direito do palco, agora se encontra no centro com o Rei sentado ao banquinho. O telão desce e exibe a letra da música “Acróstico”. O nome é feio, mas o significado é belo. Trata-se de escrever um texto em que as primeiras letras de cada linha lidas na vertical, formam uma outra palavra. Bem, melhor que explicar é demonstrar:


M ais que a minha própria vida

A lém do que eu sonhei pra mim

R aio de luz

I nspiração

A mor você é assim



R ima dos versos que eu canto

I menso amor que eu falo tanto

T udo pra mim

A mo você assim



M eu coração

E ternamente

U m dia eu te entreguei



A mo você

M ais do que tudo eu sei

O sol

R aiou pra mim quando eu te encontrei



“Arrasou!!!” – grita uma menina na platéia.


Índia, outra música re-gravada constantemente por outros artistas.

O Rei volta a falar com a platéia, comenta que as músicas naquele tempo, no tempo da jovem guarda, eram todas ingênuas. Diz que eles não, mas as músicas eram muito ingênuas. E que ninguém precisa dizer a ele, que ele sabe, que “isso faz muuuuito tempo bicho... bota tempo nisso”. Fala também que era necessário que alguém desse o primeiro passo, falasse as coisas que tinha que ser faladas, pelo menos as que ele achava que tinha que falar, que colocasse mais sensualidade no ar. E aí surgiu: “Eu te proponho...”


Além de:

No seu corpo
Os seus botòes
Café da manhã
Música suave

Nesta música, uma das coristas vem até o Rei para alguns passos de dança de “rosto coladinho”. A senhora que estava atrás de mim deve ter morrido...

Hora de apresentar os seguidores. O Rei apresenta a orquestra, um por um, fazendo brincadeiras com idade, falta de cabelos e corpos roliços. Claro, só resguardando as moças do coral. Deve ter levado uns 10 minutos para apresentar a banda toda.

E então vem “Cavalgada”. Reza a lenda que esta música foi difícil de ser executada ao vivo e na mídia devido a ter trechos considerados pornográficos e extremamente eróticos em sua letra. Veja um fragmento e tire suas conclusões:


“Vou cavalgar por toda a noite
Por uma estrada colorida
Usar meus beijos como açoite
E a minha mão mais atrevida


Vou me agarrar aos seus cabelos
Pra não cair do seu galope
Vou atender aos meus apelos
Antes que o dia nos sufoque”

Hora de “É preciso saber viver”, onde no começo o Rei erra, recomeça e diz:
“Quem espera que a vida... seja feita de ilusão... Tá ferrado bicho! Tá mesmo”

Outra parte da letra trocada é:
“Se o bem e o bem existe... você pode escolher...”, onde o original era: “Se o bem e o mal existe... você pode escolher...”


Além de sofrer de TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo, ser extremamente apaixonado pela sua finada mulher Maria Rita, se vestir sempre de azul e branco, o Rei também tem outra mania perceptível. Aboliu completamente do seu atual repertório toda e qualquer música que tenham palavras como “inferno”, “mal” e coisas do tipo. Só canta as músicas, ditas do bem. Em casa, temos boa parte dos discos do Roberto Carlos das antigas, do tempo em que ele não fazia música para mulheres de 40, que usam óculos ou caminhoneiros. Do tempo em que ele mandava tudo para o inferno e dizia ser terrível.

Eu sinceramente gosto de escutar estes discos de vez em quando e relembrar meados da década de 80 (sempre ela) onde todos os domingos, de maneira religiosa, minha mãe escutava o programa da Rádio América, que tocava por volta de 3 horas de músicas de Roberto Carlos. Foi aí que eu defini o termo “cultura implantada”, que significa ouvir / ver tanto uma determinada coisa, que acaba grudando em seu subconsciente. Isso explica porque eu sei tantas letras do Rei de cor.

Antes de “É preciso saber viver” terminar, o pessoal que estava em mesas mais próximas ao palco, já tinha se levantado e chegado na grade de segurança para ficar mais perto do Rei. Sinal de que o show está no final.

Começam os acordes de “Jesus Cristo” e o Rei começa a bater palmas daquela maneira peculiar, deixando os braços caírem paralelos ao corpo após cada batida. Senhoras tiram os sapatos, sobem nas cadeiras, vestem camisas com a estampa da foto do Rei por cima dos vestidos, usam faixas na cabeça, onde se lê “Rei”.

O Rei agradece à todos, a orquestra, ao público. O maestro auxilia o Rei pegando os ramos de rosas brancas e vermelhas e entregando-os à majestade, que vai de ponta a ponta no palco, beijando e ora arremessando ora entregando as flores nas mãos das afoitas fãs. Em troca recebe ursinhos, embrulhos, flores, quadros e toda sorte possível de presentes, que abraça, cheira, olha, balança e brinca. Contei no relógio, foram 23 minutos com o coral cantando “Jesus Cristo eu estou aqui...”.

O Rei vai até o meio do palco, se despede, manda beijos. Sai de cena. A banda encerra a música, a platéia grita “Volta!! Volta!!!”. Mas Sua Majestade não volta. Nos telões do Credicard Hall, a imagem do Rei de braços abertos, cabelos compridos, mullets, vestido de azul e branco. Tal qual um especial de Natal da Tv Globo... mas não há como negar e evitar o trocadilho de sempre: Ver um show do Rei... muitas emoções, bicho...



Setlist

Emoções
Como é grande o meu amor por você
Além do Horizonte
Detalhes
Não quero ver você triste
Eu estou apaixonado por você
Aquele beijo que eu te dei
Splish Splash
Negro Gato
O Cadilac
Acróstico
Índia
Proposta
Seu corpo
Os seus botões
Café da manhã
Música suave
esqueci de anotar o nome dessa
... essa também
Cavalgada
É preciso saber viver
Jesus Cristo

MM tem 29 anos, não acredita na monarquia, mas ficou surpreso por perceber que sabe de cor a letra de tantas músicas do Rei.



O que dizer depois de tantas emoções?

Devido ao teor do site, todos sabem dos nossos gostos. O que predomina nos cdplayers e qual bandeira levantamos. Mas de algum tempo para cá, a abertura músical se tornou quase que obrigatória. A mente se abre e conseguimos encontrar prazer ao ouvir Fields of Nephilim ou The Cure da mesma forma que ouvimos Roberto Carlos, Sinatra ou Tom Jobim.

Essa abertura nos deu a honra de participar de um evento que eu acredito ser importante para quem gosta de música. Entendo por música tudo aquilo que toca ou não no rádio. Do brega ao metal. Do Gótico à Dance Music. Sem rótulos, por favor.


O Grande Rei Betão, não tem necessidade de trabalhar mais com música. A própria presença do homem no palco é suficiente para que muitos (as) estejam com o dia ganho.


Me espantei com sua simplicidade e atenção com todos tanto no palco quanto naplatéia. Um figura de carisma sobrenatural e de sentimentos simples e sinceros que são, nitidamente, expostos durante o evento.

Como o Tchello disse, existem histórias da infância na qual RC esteve presente.
No meu caso, meu pai nasceu na mesma cidade e foi contemporâneo do cara. Isso ajudou muito no descobrimento da carreira daquele que é considerado O Rei.

Fica registrado para essa geração e para as futuras que nunca na história da música nacional, existirirá algum músico tão completo como o Rei Roberto Carlos.


Off: Na fila do refrigerante, uma mulher muito bem vestida, porém extremamente dondoca estava com seu Chandon em punho quando, subtamente, expele uma babada típica daquele que engasgou com a sopa. Segurando a gargalhada e mantendo a formalidade do local, continuo olhando de canto de olho preparado para o chilique. Olha... a mulher nem se abalou. Fingiu que não foi com ela, a amiga fingiu que não viu e nenhuma ação foi tomada. Nem mesmo de se secar. A gargalhada teve que esperar.

Ricardo Bunnyman também gosta de Morrissey, Echo and The Bunnymen, Sisters of Mercy, Cure, Joy Division e de Roberto Carlos mas evita sua fase anos 80. Gosto o Julio Iglesias e do
Frank Sinatra também. E daí? Vai encarar?









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